Simples Palavras...

A vida tem altos e baixos. Mas é nos baixos que damos importância aos altos, porque quando estamos nestes não damos conta...

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Localização: Barreiro, Portugal

quinta-feira, agosto 24, 2006

Uma das minhas preocupações constantes é o compreender como é que outra gente existe, como é que há almas que não sejam a minha, consciências estranhas à minha consciência que, por ser consciência, me parece ser a única. (...)

Ninguém, suponho, admite verdadeiramente a existência real de outra pessoa. Pode conceder que essa pessoa seja viva, que sinta e pense como ele; mas haverá sempre um elemento anónimo de diferença, uma desvantagem materializada. (...) Os outros não são para nós mais que paisagem, e, quase sempre, paisagem invisível de rua conhecida.

Tenho por mais minhas, com maior parentesco e intimidade, certas figuras que estão escritas em livros, certas imagens que conheci de estampas, do que muitas pessoas, a que chamam reais, que são dessa inutilidade metafísica chamada carne e osso. E "carne e osso", de facto, as descreve bem: parecem coisas cortadas postas no exterior marmóreo de um talho, mortes sangrando como vidas, pernas e costeletas do Destino.

Não me envergonho de sentir assim porque já vi que todos sentem assim. O que parece haver de desprezo entre homem e homem, de indiferente que permite que se mate gente sem que se sinta que se mata, como entre os assassinos, ou sem que se pense que se está matando, como entre os soldados, é que ninguém presta a devida atenção ao facto, parece que abstruso, de que os outros são almas também.

(...) Quando ontem me disseram que o empregado da tabacaria se tinha suicidado, tive uma impressão de mentira. Coitado, também existia! Tínhamos esquecido isso, nós todos, nós todos que o conhecíamos do mesmo modo que todos não o conheceram. Amanhã esquecê-lo-emos melhor. Mas que havia alma, havia, para que se matasse.

(...) Sim, os outros não existem...


O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa

terça-feira, agosto 22, 2006

Se eu pudesse querer o que quero, não quereria.
Se eu pudesse ter o que não tenho, não teria.
Se eu pudesse ser feliz, não seria.

Porque mesmo se eu pudesse, seria tudo igual.