
Uma concha branca e redonda, quase perfeita veio num turbilhão da revolta de uma onda. Deixara tudo para trás, aquele seu mundinho tranquilo, repleto de algas e peixes que por lá passeavam. Deixara de ouvir aquela melodia que só na profundidade do mar se consegue ouvir. Agora só ouve um estrondo ritmado que a assusta. Vê-se solitária e abandonada. A sua casa está bem longe, demasiado longe para poder alcançá-la. A areia, outrora suave e acolhedora, mostra-se rígida demais, como que a repulsá-la. Sim, a concha não pertence ali, está só à espera que a apanhem e a levem... Tem saudades do seu habitat, mas sabe que tudo muda. Não poderia ficar para sempre protegida ali. A mudança desenraizou-a. O mar tirou-lhe à força as suas raízes. Basta-lhe agora esperar, esperar por uma sorte melhor. Pode ser que alguém a apanhe, por acreditar na sua beleza. Ou pode ser que ninguém repare na sua existência e a destrua para sempre. Mas o que ela guardava ninguém descobrirá.