Simples Palavras...

A vida tem altos e baixos. Mas é nos baixos que damos importância aos altos, porque quando estamos nestes não damos conta...

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sexta-feira, março 03, 2006

Corpos (já) sem alma

À noite, quando está tudo adormecido, acordam os que nada têm. Acordam em busca da sobrevivência, procuram onde de dia não lhes é possível, pois a vergonha ainda os inibe. O lixo é rebuscado. Finjo que não percebo e sigo o meu caminho. Não será o que todos fazemos? Fechar os olhos a este submundo... Assustei-me. Quando volto, já não está, como que se evaporou. Deparo-me com esta triste realidade e que faço? Penso... Mas não consigo fazer nada. Nessa mesma noite, uns quilómetros adiante vejo outro ser deambulante, que me olha e me aterroriza. Sigo o meu caminho e fico com a sua imagem no pensamento. Que quereria aquele olhar dizer? E o outro homem, que teria pensado ao ouvir os meus passos a ao sentir a minha presença?

Mas, de dia se tivermos atentos, também vemos pequenos (grandes) actos em busca da sobrevivência. Em pleno centro comercial, cheio, toda a gente distraída, a comerem, a falarem, a rirem, a passearem... E um homem, sorrateira e subtilmente procura comida nos restos deixados pelos outros. Quer o que os outros, já empanturrados, não conseguiram comer. Guarda tudo o que lhe parece comestível. Tenho medo que me veja a olhar para ele. Não queria que se sentisse julgado. Fiquei mais uma vez, presa naquela situação.

Em situações extremas, talvez sejamos mesmo assim, esquecemos que a dignidade existe.

Penso e repenso, como é possível viver assim? Cada dia que nasce é uma grande luta para sobreviverem. Não sei se terão alguma réstia de esperança.

Lembro-me do que tenho todos os dias seguro e certo e penso como seria viver sem isso.

Onde está a família daqueles homens? Onde está a vida daqueles homens? Onde está a sua alegria? Como/ porquê/ até quando irão viver à margem da sociedade? Onde ficaram as suas almas?...

Por momentos, momentos demasiado pequenos e insignificantes pensei neste modo (?) de viver (?!). Nestas pessoas, que verdadeira e fisicamente, vagueiam neste mundo, à margem de tudo e à deriva.

(Sobre)vivem apenas por instinto.

2 Comments:

Blogger Nokkas said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

1:21 da manhã  
Blogger Nokkas said...

É uma realidade que existe mas que todos nós saltamos por cima ou nos desviamos como a grande ou pequena poça no nosso caminho.
Sempre foi mais fácil fugir a enfrentar a realidade, é mais fácil fecharmos os olhos a abri-los e verificarmos o que não gostam, é mais bonito dizer-se coitado do homem a ir lá e ajudar, essas pessoas são lembradas em épocas e hipócritas que cada vez mais vão perdendo o seu significado, como o Natal...
E vejo que sou igual a todos os outros que se limitam a falar sobre o assunto, mas a pouco ou nada fazerem para modifica-lo... Porque cada vez que me deparei com uma situação dessas fechei os olhos e "saltei por cima da poça" posso até pensar nela durante uns minutos mas depois varro-a da mente, porque me põe triste..
Pergunto-me se essas pessoas não terão histórias mais interessantes que a minha, ou se não terão lições de vida mais importantes e ricas que as que eu tenho...!! Serei eu mais rica ou mais pobre??

Fantástico o texto a sério!**

1:28 da tarde  

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