Uma Multidão Singular

Numa rua cheia de agitação e de entre a multidão chama-me a atenção uma mulher com um vestido rosa choque. Mostrava segurança em si própria, estava com uma cara alegre. Como que se estivesse a lembrar de algo e a sorrir ao mesmo tempo. Pensei para mim própria, se ela seria assim tão feliz. Comecei a imaginar a sua vida, uma mulher de sucesso a nível profissional e que agora, a nível pessoal iria sentir-se realizada, ia ser mãe. Divagações... Se calhar estava a projectar os meus desejos futuros naquela mulher. Talvez ela não fosse nada do que eu imaginava. Talvez fosse uma pessoa fútil, sem ambições, e a sua vida pessoal fosse um grande turbilhão de homens sempre a entrarem e a sairem da sua vida. Mas como eu poderia julgar assim alguém nem sequer a conhecia.
De repente chama-me a atenção um menino que chorava. Devia estar perdido dos pais. O menino devia sentir-se sem chão debaixo dos pés. Era como se tivesse perdido tudo. Lembrei-me de alguns momentos assim, quando perdi pessoas muito importantes para mim. Invadiu-me um grande sentimento de mágoa. Deixei de ver o rapaz.
E assim somos nós. Todos temos algo em comum, mas muitas vezes pensamos que só nós sofremos assim, que só nós temos esta vida dificil, que só nós temos problemas. Seria bom que de vez em quando nos puséssemos na pele do outro.